quinta-feira, 30 de outubro de 2008

ANSIEDADE

O ser humano normal é dotado de um equipamento psico-biológico suficiente para fazê-lo sentir ansiedade diante de situações específicas e que exigem uma atitude mais incisiva e imediata, entretanto, assim que tal situação se resolve, tudo voltará ao normal fisiologicamente.
Porém, para algumas pessoas ansiedade é algo incontrolável e não deixa de existir, simplesmente, quando a situação que a deveria causar ansiedade deixa de exisitir.
O ansioso sente um medo, apreensão e tensão constante, além do normal. Muitas vezes existe uma razão concreta para a pessoa estar reagindo à vida com ansiedade, como por exemplo, quando há estresse provocado por algum acontecimento externo ou conflito interno, quando há alguma doença em curso, uma emergência de vida, etc. Mas, existem situações de ansiedade onde não se detecta nenhum motivo aparente, inclusive nenhuma doença física que possa justificar esse estado emocional, nenhum acontecimento estressante.
Nesses casos sem razão aparente, os sintomas da ansiedade surgem espontaneamente, muitas vezes sob a forma de ataques de ansiedade, ataques de pânico, fobias, transtorno obsessivos, somatizações e doenças psicossomáticas.
Dependendo da forma como essa ansiedade patológica se apresenta nesta pessoa, ela poderá se mostrar ora hipocondríaca, ora evitando freqüentar lugares onde possa se ver em situações de pânico, pode ser inclinada a usar álcool para aliviar a sensação de insegurança, enfim, pode apresentar algum comprometimento de seu modo de vida. ansiedade. A ansiedade pode se apresentar de várias formas.
Mas, como o assunto é demais importante, há também uma completa descrição do tema em DSM.IV e no CID.10, duas classificações internacionais de doenças. No DSM.IV o assunto é dividido da seguinte maneira:
1. Agorafobia Ataque de Pânico2. Transtorno de Pânico Sem Agorafobia3. Transtorno de Pânico Com Agorafobia4. Agorafobia Sem História de Transtorno de Pânico5. Fobia Específica 6. Fobia Social7. Transt. Obsessivo-Compulsivo8. Transt. de Estresse Pós-Traumático 9. Transt. de Estresse Agudo10. Transt. de Ansiedade Generalizada11. Transt. de Ansiedade por uma Condição Médica Geral12. Transt. de Ansiedade Induzido por Substância13. Transt. de Ansiedade Sem Outra Especificação.
Portanto, não se pretende aqui discorrer sobre detalhes do tratamento da ansiedade, já que ela se compõe de vários estados emocionais clinicamente diferentes mas, sobretudo, ressaltar as linhas básicas do tratamento geral e, posteriormente, o leitor poderá consultar separadamente o texto específico para cada tipo de transtorno ansioso.
Na ansiedade sob a forma de Síndrome do Pânico, a pessoa tem crises onde começa a apresentar um pavor exagerado de passar mal, perder o controle, morrer de repente, não poder ser socorrido, enfim, medo de sofrer alguma coisa grave que se manifesta em determinadas situações. Essas crises normalmente são acompanhadas de palpitação, sudorese e mal-estar, etc.
Outra forma de ansiedade é a chamada Ansiedade Generalizada, onde a pessoa está continuadamente desesperada, aflita, assustada e inquieta, sempre achando que alguma coisa de mal vai pode acontecer com ela, com seus filhos...
A ansiedade também pode se manifestar através de sintomas Obsessivo-compulsivos. Nessa situação, a pessoa é invadida por pensamentos torturantes, exigentes, absurdos e desagradáveis, conseqüentemente ela repete várias vezes o mesmo ato impulsivamente para tentar aliviar-se dos pensamentos. É o caso das pessoas que conferem várias vezes se fecharam o gás do fogão, a porta da casa, são pessoas que lavam as mãos várias vezes e continuam achando que as mãos ainda estão sujas, pessoas que se preocupam exageradamente com a simetria das coisas, etc.
Outras pessoas expressam suas ansiedades através de Fobias. São conhecidas várias formas de fobias, como a claustrofobia (medo de lugares fechados), agorafobia (medo de sair de casa e ficar em público), fobias sociais (como o medo de ser ridicularizado em público) e outras.
Além dessas formas de ansiedade, a pessoa também pode passar por algum trauma e continuar sentindo todo o mau estar mesmo depois do problema ter acontecido. Esse tipo de ansiedade é conhecido como Estresse Pós-traumático, que pode aparecer logo após a pessoa ter sofrido um trauma e persistir até 6 meses depois. A pessoa passa a reviver o trauma repetitivamente, ter insônia, pesadelos, dificuldade para se concentrar, entre outros sintomas.
AnsiedadeO tratamento pode variar conforme o tipo de ansiedade, entretanto, o conceito do tratamento deve ser sempre o mesmo. Isso significa que não nos preocupamos, exatamente, com a existência do tipo de Transtorno da Ansiedade em si, mas com o por quê esse determinado paciente é portador dessa doença.
E qual seria o conceito básico a termos em mente para o tratamento de qualquer tipo de Transtornos de Ansiedade? Primeiro, é importante ter uma boa noção do fenômeno da ansiedade em si, em seguida do estresse. Toda ansiedade tem início quando o indivíduo toma contacto com um agressor psicossocial. Ora, então o problema da ansiedade patológica só pode ser devido à:
1. O estressor é maior que a capacidade de adaptação da pessoa;2. O estressor persiste por muito tempo e esgota a capacidade da pessoa se adaptar;3. A sensibilidade da pessoa está temporariamente muito acentuada, a ponto de transformar fatos corriqueiros em fatos estressantes;4. A pessoa tem um traço de personalidade capaz de superestimar fatos cotidianos como se fossem fatos estressantes;5. Uma combinação de mais de um desses fatores.
Assim sendo, o tratamento deve ter em mente o seguinte:
Objetivos do tratamento para Ansiedade
1. Diminuir os sintomas mórbidos para o pacientes readquirir a indispensável sensação de segurança;2. Fortalecer a sensibilidade (afetividade) da pessoa para ser capaz de suportar melhor os estresses da vida;3. Procurar resolver seus conflitos íntimos;4. Se possível, lidar com os estressores.
A ansiedade que se manifesta por Fobia, por exemplo, é um caso típico da tensão emocional desencadeada por estressores provenientes do meio ambiente (objetos, situações, animais, etc) que traumatizam um organismo exageradamente sensível, portanto, suscetível à ação mórbida de tais estressores.
Nos casos das fobias, além da terapia medicamentosa, também as psicoterapias comportamentais e cognitivas são de grande valor. Enquanto os medicamentos minimizam os sintomas, reforçam a segurança pessoal e melhora a auto-estima, corrigem desequilíbrios orgânicos, a psicoterapia busca promover uma conscientização da situação e uma dessensibilização sistemática (adaptação ou superação) da pessoa diante da situação que lhe causa o estresse. Pretende-se que a pessoa vá, aos poucos, aprendendo a relaxar e controlar-se diante daquela situação que lhe causa ansiedade.
Para os casos de Pânico estão indicados os ansiolíticos, antidepressivos e, igualmente, a Terapia Cognitiva-Comportamental. A grande maioria dos casos de Pânico são beneficiados com o uso de antidepressivos.
Também no Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), a farmacoterapia associada à terapia comportamental e cognitiva é considerado tratamento ideal. Infelizmente o TOC não mostra ainda um bom prognóstico terapêutico, apesar desses esforços. É, de fato, uma doença grave e a maioria dos pacientes apresenta apenas uma resposta parcial ao tratamento. Por este motivo tem sido quase unânime a recomendação de que se utilize simultaneamente o tratamento medicamentoso e psicoterápico.
Portanto, como veremos nas páginas específicas para cada tipo de Transtorno Ansioso, o conceito básico do tratamento é melhorar a afetividade do paciente, conseqüentemente, melhorar a auto-estima, a sensação de segurança, de confiança e de otimismo. Vem desse conceito a tendência moderna em tratar-se todos os casos de Ansiedade com antidepressivos, associados ou não aos ansiolíticos.
A combinação de farmacoterapia e psicoterapia tem sido a melhor opção para tratamento do Transtorno de Ansiedade Generalizada.
Farmacoterapia Benzodiazepínicos - Ansiolíticos
Os medicamentos que a medicina dispõe para debelar um estado de ansiedade são os chamados ansiolíticos, que agem de forma semelhante aos analgésicos para a dor, os antitérmicos para a febre, antiinflamatórios para inflamações, e assim por diante.
Os benzodiazepínicos foram, no passado, e continuam sendo ainda muito utilizados como tratamento da Ansiedade Generalizada. Em nossa opinião pessoal, sua ação é muito mais sintomática que terapêutica, propriamente dita. No entanto, não se pode, absolutamente, prescindir de sua utilização para o alívio imediato dos molestos sintomas da ansiedade.
Algumas pessoas, não se sabe bem porque, recusam-se a tomar ansiolíticos para a ansiedade aguda (patológica), mas fazem uso generoso de quaisquer dos exemplos citados acima, e mais anticoncepcionais, anti-hipertensivos, anti-diabéticos, etc... Talvez seja porque acreditem, num lampejo de superioridade em relação aos demais, que podem "controlar" a ansiedade patológica. Seria bom conseguirem, daí o próximo passo seria melhorar a miopia e o reumatismo através da força do pensamento positivo.
Mas, idéias à parte, os medicamentos chamados ansiolíticos se referem, de modo geral, aos Benzodiazepínicos. Esses medicamentos são utilizados nas mais variadas formas de ansiedade e, infelizmente, sua indicação não tem obedecido, desejavelmente, a determinadas regras. Não se tratam de poderosos medicamentos antineuróticos, antipsicóticos ou antiinsônia, como podem estar pensando muitos clínicos e pacientes. Eles são apenas ansiolíticos, ou seja, resolvem as crises de ansiedade aguda.
A melhor indicação para os Benzodiazepínicos são nos casos onde a ansiedade NÃO faz parte da personalidade do paciente, como uma característica sua, ou ainda, para os casos onde a ansiedade NÃO seja secundária a algum outro distúrbio psíquico, como por exemplo, depressão. Resumindo, os ansiolíticos serão bem indicados quando a ansiedade patológica estiver muito bem delimitada no tempo e com uma causa bem definida, ou seja, começou em uma época definida ou depois de algum acontecimento. Mesmo assim, prefere-se associá-los a outros medicamentos, como por exemplo, aos antidepressivos.
Naturalmente podemos nos valer dos Benzodiazepínicos como coadjuvantes do tratamento psiquiátrico, quando a causa básica da ansiedade ainda não estiver sendo prontamente resolvida. No caso, por exemplo, de um paciente deprimido e, conseqüentemente ansioso, os Benzodiazepínicos podem ser úteis enquanto o tratamento antidepressivo não estiver exercendo o efeito desejável. Trata-se, neste caso, de uma associação medicamentosa provisória e benéfica ao paciente. Entretanto, com a progressiva melhora do quadro depressivo não haverá mais embasamento para a continuidade dos Benzodiazepínicos.
Existem benzodiazepínicos com forte capacidade sedativa e outros com quase nenhuma. Nessa escala encontra-se em primeiro lugar, quanto a capacidade sedativa o Clonazepam (Rivotril®) e o Lorazepam (Lorax®, Mesmerim®) e com menor sedação o Clordiazepóxido (Psicosedim®) e o Alprazolam (Frontal®). O representante mais tradicional dos benzodiazepínicos é o Diazepam (Valium®, Diempax®), com alta capacidade sedativa e ansiolítica (veja tabela abaixo).
A opção para esse ou aquele tipo de benzodiazepínico depende da sintomatologia, da concomitância de insônia e das atividades cotidianas do paciente, tendo-se em conta que os sedativos são limitantes da atividade ocupacional. Na prática, tem se constatado que os benzodiazepínicos mais sedativos são, por conseguinte, aqueles que mais probabilidade têm de desenvolver dependência com o uso prolongado.
ANSIOLÍTICOS BENZODIAZEPÍNICOS DISMPONÍVEIS NO BRASIL
nome químico
nome comercial
Alprazolam
Apraz, Frontal, Tranquinal, Altrox
Bromazepam
Lexotam, Deptran, Somalium, Sulpam
Buspirona**
Ansitec, Bromoprim, Buspanil, Buspar
Clobazam
Frizium, Urbanil
Clonazepam
Rivotril, Clonotril
Clordiazepóxido
Psicosedim
Cloxazolam*
Olcadil, Elum
Diazepam
Diazepam, Noam, Valium, Ansilive, Kiatrium
Lorazepam*
Lorax, Lorium, Mesmerim

*-ansiolíticos usados também como hipnóticos devido a grande sonolência e sedação. **- considerado ansiolítico não-benzodiazepínico
AntidepressivosOs antidepressivos são, segundo a maioria dos autores, os medicamentos mais utilizados quando se suspeita que um componente depressivo esteja acompanhando o quadro ansioso (o que quase sempre acontece).
Entretanto, tendo em vista a maior demora para a ação terapêutica dos antidepressivos, normalmente eles são associados aos ansiolíticos benzodiazepínicos no início do tratamento. Entre os antidepressivos a serem associados aos benzodiazepínicos para o tratamento dos quadros ansiosos tem-se preferido aqueles com menor potencial de causar mais ansiedade ainda ou, preferentemente, aqueles que até proporcionem algum efeito ansiolítico.
Para associação com ansiolíticos, dos antidepressivos mais tradicionais a Amitriptilina (Tryptanol®, Amytril®) estaria bem indicada e, da nova geração de antidepressivos, a preferência seria para a Mitazapina (Remeron®), a Venlafaxina (Efexor®) e a Paroxetina (Aropax®, Pondera®).



para referir:Ballone GJ - Tratamento da Ansiedade -in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br, revisto em 2007

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