terça-feira, 18 de novembro de 2008

LIÇÕES DO MEDO



Lições do medo:: Adília Belotti
Imagino que todos os tempos são tempos de violência. O sofrimento que causamos uns aos outros não é novo, nem nasceu nas telas de TV. O que talvez seja novo é, como ensinam os especialistas, a escala. O que talvez seja novo é a visibilidade planetária que ganham os atos de violência que os humanos (poucos, temos que acreditar nisso e as estatísticas ainda devem estar a favor dos seres pacíficos!) andam cometendo por aí.Será que é possível se proteger da violência? Talvez. Segundo Gavin de Becker, que, de especialista virou uma celebridade, desde que Oprah Winfrey disse que “esse é o maior entendido do mundo em comportamento violento”, a única coisa que pode evitar que sejamos vítimas da violência é… nosso medo!No livro The Gift of Fear, Gavin de Becker explora várias situações de violência, tentando demonstrar como, naqueles momentos, as pessoas envolvidas tinham sido assaltadas por inúmeras indicações do perigo iminente - arrepios, intuições, impulsos “irracionais” - e, nos piores casos, não tinham reagido a esses sinais. Nos melhores casos, essas pessoas forneceram indícios preciosos para o estudioso do comportamento formatar suas teses sobre o “presente do medo”.“Ouvir um pequeno sinal de advertência pode salvar a sua vida”, afirma o especialista, “assim como não seguir outros acaba nos colocando em situações de risco”. Nada a ver com paranóia. Apenas pesquisa aplicada na vida diária. Veja só os sinais que ele relaciona:- Pensamentos persistentes;- Variações de humor;- Ansiedade sem explicação;- Curiosidade;- Sensações estranhas “na boca do estômago”;- Dúvidas;- Hesitações;- Apreensões;- Suspeitas;- Palpites.Todas essas reações cheias de informação são enviadas para nós pelo nosso maior aliado, o medo.Mas como distinguir essas reações na hora “H”? Aprender a reconhecer esses sinais é um tremendo exercício de autoconhecimento. Nada fácil, ao contrário, mas simplesmente começar a pensar nisso já é alguma coisa.Todos nós já trombamos alguma vez com alguém que nos faz sentir “esquisitos”… talvez até tenhamos prestado atenção, mas grandes são as chances de termos sacudido os ombros num “que bobagem!”. Demos sorte, provavelmente.Todos nós também já desconfiamos, sem motivo, de alguém. E nos arrependemos depois. “Puro preconceito”, dizemos. Provavelmente.E ninguém quer viver em estado de vigilância eterna contra nossos semelhantes. Então, o medo pode ser educado, ensina De Becker, reconhecer e exercitar “a intuição confiável é exatamente o oposto de viver com medo”.E talvez a gente tenha mesmo desaprendido a ouvir esses sinais protetores. A moça Eloá, por exemplo, poderia ter usado esses recursos para evitar um envolvimento maior com o rapaz que a matou.O medo puro, dos animais, não é aquela coisa ansiosa que inventamos para nós mesmos. Nada tem a ver com fantasias e pavores imaginários. O medo é coisa de bicho. De sobrevivência. Aprender a não ter medo do medo é a primeira regra. Até porque “quando temos medo, não está acontecendo”. O medo é sempre medo de algo que pode acontecer. Se um ladrão entrar na sua casa, você não vai ter medo de que um ladrão entre na sua casa, esse medo você já teve. Agora, seu medo é do que ele vai fazer em seguida, entende? Ou seja, o medo sempre antecipa alguma situação de perigo. Cabe a cada um checar as origens deste medo, examiná-lo de todos os ângulos possíveis, ouvir as intuições agregadas a ele e depois tomar uma decisão: evitar, fugir ou atacar. O medo nos dá tempo para pensar e agir.Não ter medo do próprio medo pode parecer uma idéia polêmica mas, se a gente parar para pensar, não faz sentido? Afinal, nem sempre a gente pode confiar nos versos da música “o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”

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